Ponderações: o comportamento do ser humano no século 21


A Ética é a essência formal da Moral que por sua vez está subordinada a preocupações metafísicas ou seculares, de modo geral a essas duas bases. Isso é evidente na vida comum, a mistura dessas duas diretrizes. Uma pessoa normal sente que precisa equilibrar convicções, ainda que intuitivamente.
Ao longo da História a sociedade humana, gregária ou não, submeteu-se a líderes moralistas a partir do momento em que percebeu desde a necessidade de crenças comuns a padrões morais, preceitos, restrições para sobreviver, com muitos detalhes e sacralizando rituais, oferendas, castigos, prêmios e muito mais. Fortalecidos pelo medo a tudo o que não entendiam ou simplesmente na admiração de cenários tão lindos que a inspiravam a crer em Deus as seitas[1] e as religiões aconteceram
Podemos imaginar a sensação de qualquer troglodita[2] no limiar da inteligência olhando o firmamento em noites limpas, o mar infinito, plantas e animais de que podia se aproximar. Esses seres humanos tinham habilidades sensoriais aguçadas, como enxergavam a Natureza?
O “homo sapiens sapiens” transformou-se, evoluiu. De predador e coletor virou sedentário, agricultor, construtor ou simplesmente burocrata passivo. Organizado em comunidades gerou teorias e práticas religiosas, políticas, profissionais, de vida, lazer, trabalho...
De forma oportunista muitas crenças se estruturaram de antropomorficamente [ (www.carm.org), (Antropomorfismo) atribuindo a divindades e similares qualidades humanas], ou simplesmente assim porque não havia como exigir maiores abstrações. Essa é uma condição onipresente na sociedade atual onde a maioria das pessoas não tem tempo, não pode ou não quer pensar e estudar.
É infinitamente mais simples racionalizar a gosto de nossos medos e instintos, assim livramo-nos de dúvidas que incomodam e sem essa carga intelectual e cuidar melhor de nossos desejos mais agradáveis ou essenciais à nossa sobrevivência material.
É surpreendente, paradoxal ver de que forma as pessoas aceitam tacitamente “filosofias” e seus efeitos tão rapidamente, mesmo quando diferem drasticamente de décadas de crenças aparentemente consolidadas em suas maneiras de entender a vida desde a infância. Ao aceitarem o ingresso em alguma sociedade com base filosófica alternativa renegam parte ou tudo o que diziam acreditar sem ao menos estudar direito o que o novo ambiente propõe. Ou seja, ou o ser humano é incrivelmente volúvel e superficial ou nesses ambientes terá descoberto por milagre uma coleção de “revelações” revolucionárias que aceitou com entusiasmo.
Povos inteiros mudaram de religião por vontade de reis e guerreiros poderosos, será que a Humanidade agora é melhor, mais inteligente e capaz de sustentar fé e convicções sem modismos e imposições?
Ou continuamos simplesmente pragmáticos, aderindo ao que nos der vantagens sociais, políticas, materiais?
Surpreendentemente estamos, além disso, sob o império da mídia, do marketing, em muitos lugares subjugados pela força, simplesmente (Princesa) escravos e revoltados. A intolerância é algo assustador; a sutileza da manipulação dos meios de comunicação, contudo, infinitamente mais perigosa se aprofundarmos análises dos piores exemplos de violência cultural do século 20 (quando a grande imprensa, cinema, rádio, televisão, gráficas, tecnologias de massa se consolidaram) e agora, tempos de fanatismos religiosos impressionantes, quando a comunicação atingiu um nível de capilaridade e organização dominantes (assim como o rastreamento, a vigilância, a perda de intimidade).
O racismo e sentimentos tribais fortíssimos ainda existentes em todos os continentes, mas surpreendentemente na Europa e Ásia, por exemplo (nos EUA nunca deixou de existir (Magnoli)), são assustadores. Inacreditavelmente mesmo após todo o sofrimento causado pela Segunda Guerra Mundial conflitos bélicos e o ódio tribal é fortíssimo. Vimos isso nitidamente em diversas ocasiões a partir de pessoas que nos pareciam evoluídas. O que aconteceu na Iugoslávia (Nogueira) é antológico, terrivelmente sintomático de nossas limitações intelectuais e comportamentais, por quê?
Essa é a realidade.
Ela existe entre nós, dentro de nossos cérebros talvez por efeito de arquivos genéticos.
O caminho para a libertação humana passa pela tolerância, fraternidade, liberdade
A importância da separação do Estado de dominações religiosas é fundamental, quando possível; a defesa do Estado laico é essencial à liberdade de pensamento e opinião, assim como poder-se adotar padrões éticos que acreditamos.
O destaque do século 21 será a ampliação exponencial dos recursos tecnológicos para comunicação, processamento de dados, utilização de processos computacionais de análise e assim a ampliação da vida inteligente, em todos os sentidos, ou simples e maldosa dominação do ser humano. O aproveitamento desse paraíso técnico será também proporcional ao descolamento de atavismos. Inovações mexem fundo nos preconceitos. Devemos “preparar” nossas crenças para o futuro, principalmente os jovens que terão a oportunidade de viver neste cenário se nenhum cataclismo universal interromper esse desenvolvimento.
É sempre importante lembrar que os cataclismos[3] são efeitos rotineiros em nosso planeta, e de modo algum raros, tanto aqueles causados pelas nossas eternas guerras quanto pelo mau humor do Universo (Cataclismos - visões e histórias).
No século 21 a novidade é a poluição crescente causada por tempos que ignoravam as limitações da Terra.  O tema agora que exige reflexões e ações urgentes, de curto, médio e longo prazo é a Sustentabilidade[4].
O fundamental para enfrentar essas situações é estarmos preparados para sobreviver. Fragilidades pessoais e familiares serão fatais. A história da Humanidade é o relato de cenários para os descendentes daqueles que enfrentaram tudo e venceram: nós.
Vale pensar: que moral e padrão ético devemos criar, aprimorar, transmitir, educar?
Vamos simplesmente deixar acontecer?
O que até em filmes de ficção podemos ver é o ressurgimento de batalhões de pessoas ferozes com armas futuristas ou prosaicas espadas cheias de luzes e raios. Com certeza a criatividade artística viabiliza fortunas. O mundo após grandes catástrofes, principalmente se lembrarmos questões de logística e saber fazer será duríssimo para os sobreviventes.
Como preparar a humanidade para continuar existindo até que a vida sobre este planetinha for impossível apesar de nossos esforços?

João Carlos Cascaes
Curitiba, 02 de setembro de 2016
Antropomorfismo. s.d. 21 de 8 de 2016. <http://www.dicionarioinformal.com.br/antropomorfismo/>.
Magnoli, ´Demétrio. Uma Gota de Sangue - História do Pensamento Racial. Editora Contexto, s.d.
Nogueira, João Pontes. A GUERRA DO KOSOVO E A DESINTEGRAÇÃO DA IUGOSLÁVIA: Notas sobre a (re)construção do Estado no fim do milênio. s.d. <http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v15n44/4152.pdf>.
www.carm.org. Antropomorfismo: Deus se relaciona conosco em termos humanos. s.d. 21 de 8 de 2016. <http://www.monergismo.com/textos/presciencia/antropomorfismo.htm>.







[1] Wikipédia em 02 de setembro de 2016 - Seita (latim secta = "secionar", "dividir", "sectar) de forma geral é um conceito complexo utilizado para grupos que professem doutrina, ideologia, sistema filosófico ou político divergentes da correspondente doutrina ou sistema dominantes.
Segundo Peter L. Berger, seita seria a organização de um grupo contra um meio que consideram hostil ou descrente,[1]. O grupo então se fecha em um corpo de doutrinas e vê o restante da sociedade como inerentemente má ou pecadora, passível da ira divina, que inevitavelmente sobrevirá sobre eles. As seitas de orientação cristã usam as noções de pecado e santificação como forma de dar legitimidade discursiva aos neófitos e manter os que já são seguidores. A saída do grupo pode acarretar diversos efeitos psicossociais em decorrência do sentimento de solidão, de autoculpabilização e da hostilidade advinda do grupo que se está deixando. Sair de uma seita nunca é fácil porque ela exerce controle sobre toda a vida individual e coletiva dos indivíduos. As seitas, assim como as religiões instituídas, são agências reguladoras do pensamento e da ação, mas com a diferença de que na seita a regulação tende a ser mais totalizante, devido ao rígido controle que exercem sobre os sujeitos.
Embora o termo seja frequentemente usado apenas às organizações religiosas ou políticas, estende-se também à adesão a grupos militantes minoritários em tensão com a sociedade ampla.

[2] Troglodita é um nome masculino que designa um homem, uma colectividade ou animais que habitam uma caverna ou uma habitação cavada numa rocha ou que se apoia sobre falhas ou grutas naturais nas falésias. A origem deste nome remonta ao Antigo Egipto onde havia o povo dos Trogloditas, que vivia instalado em rochedos próximo do Mar Vermelho. Wikipédia

[3] Cataclismo (grafado ocasionalmente como cataclisma) (do grego κατακλυσμός - kataklusmós, água, inundar, fazer desaparecer por inundação) é uma tragédia ambiental de caráter generalizado, como o Grande Terremoto do Leste do Japão ocorrido em março de 2011. São desastres repentinos, praticamente imprevisíveis e de impossivel prevenção, sendo a única maneira de salvar vidas a evacuação do local. Também tem como característica um alto número de fatalidades e grande prejuízo econômico para o local, sendo necessário anos, décadas em certos casos, para a recuperação total das estruturas locais. Wikipédia
[4] Wikipédia em 1 de setembro de 2016 - Sustentabilidade é uma característica ou condição de um processo ou de um sistema que permite a sua permanência, em certo nível, por um determinado prazo.[1] Ultimamente, este conceito tornou-se um princípio segundo o qual o uso dosrecursos naturais para a satisfação de necessidades presentes não pode comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras. Este novo princípio foi ampliado para a expressão "sustentabilidade no longo prazo", um "longo prazo" de termo indefinido.[2]
A sustentabilidade também pode ser definida como a capacidade de o ser humano interagir com o mundo, preservando omeio ambiente para não comprometer os recursos naturais das gerações futuras. O conceito de sustentabilidade é complexo, pois atende a um conjunto de variáveis interdependentes, mas podemos dizer que deve ter a capacidade de integrar as questões sociaisenergéticaseconômicas e ambientais. • Questão social: é preciso respeitar o ser humano, para que este possa respeitar a natureza. E do ponto de vista humano, ele próprio é a parte mais importante do meio ambiente. • Questão energética: sem energia a economia não se desenvolve. E se a economia não se desenvolve, as condições de vida das populações se deterioram. • Questão ambiental: com o meio ambiente degradado, o ser humano abrevia o seu tempo de vida; a economia não se desenvolve; o futuro fica insustentável.
O princípio da sustentabilidade aplica-se a desde um único empreendimento, passando por uma pequena comunidade (a exemplo das ecovilas), até o planeta inteiro. Para que um empreendimento humano seja considerado sustentável, é preciso que ele seja:
·        Ecologicamente correto
·        Economicamente viável
·        Socialmente justo
·        Culturalmente diverso


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